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13 de maio: uma data para refletir e agir contra o racismo
O dia 13 de maio é marcado nos calendários pela abolição da escravatura, promulgada pela Princesa Isabel. No entanto, com o passar dos anos, essa data passou por um processo de ressignificação, já que o racismo e a discriminação ao povo negro não foram abolidos junto ao processo de escravização – até mesmo o trabalho análogo ao escravo não desapareceu em nossa sociedade até agora.
Neste 13 de maio, é fundamental que todos se unam para denunciar o racismo e promover a igualdade racial. Juntos, podemos construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos. Por isso, o TRT-PB reforça sua posição de repúdio ao racismo e a qualquer forma de discriminação no trabalho e em outros ambientes. E se você presenciou ou foi vítima de racismo no âmbito do TRT da Paraíba, nós temos canais disponíveis para denunciar essas situações.
Para homenagear aqueles que lutaram e continuam lutando contra o racismo e pela justiça social, trazemos um texto potente, produzido por uma de nossas magistradas, que refletem esta transformação no entendimento em torno da data.
Os Pássaros Sem Asas
A assinatura da Lei Áurea libertou muitos pássaros sem asas.
Foram mais de 300 anos sem asas.
Pediram asas, mesmo sem saber voar.
Sem terra, sem teto, sem educação, sem dignidade.
O racismo ainda está organizado. Instalado nas estruturas da sociedade, nas instituições, nos discursos, nas oportunidades negadas, nos olhares atravessados.
O racismo ainda reina disfarçado de piada, de elogio enviesado, de exclusão disfarçada de “critérios igualitários” desumanos.
A princesa Isabel não nos libertou.
Ela só nos deu um novo endereço: o morro do esquecimento.
Saímos do tronco e fomos pro morro.
Como pular se não temos asas?
Sem asas.
Sem saber voar.
Hoje ainda precisamos dar o nosso grito no dia 13 de maio.
Exigimos asas.
Precisamos voar.
É dentro dessa realidade que eu me construo como mulher negra.
Uma identidade que carrego com orgulho, mas trago o peso de uma história silenciada. Crescer sendo mulher negra neste país é ter que aprender, cedo demais, a se defender. É ter que provar “o extraordinário”.
Sou uma dessas mulheres que sobreviveram ao que parecia impossível. Mulheres que criaram seus filhos com coragem, mesmo quando o mundo dizia que ela não seria capaz de mais nada. Que plantaram afeto onde só havia concreto duro.
É por essas mulheres, e por mim mesma, que eu falo hoje: A liberdade que celebramos neste 13 de maio é nosso grito de liberdade.
Ainda estamos no começo dessa história, pois ainda há muito o que libertar. Ainda há muitas portas a serem abertas: na educação, nas instituições públicas, na moradia digna, nas universidades, nas empresas, nos espaços de poder.
Libertar, na verdade, é acabar com o racismo estrutural, com a violência camuflada que atinge a nossa dignidade, com a marginalização que nos empurra para as bordas.
A abolição é um processo que ainda não se exauriu. Em 1888 foi só um leve começo.
Basta de silêncio.
Hoje vamos gritar!
A minha existência, como mulher negra magistrada, descendente de escravizados e de indígenas, é política, é histórica, é sagrada. Hoje eu quero ser a voz a todas as mulheres negras de nosso país que não conseguiram ser ouvidas, que não puderam voar.
O 13 de maio não é somente uma data a ser marcada no calendário, mas revela um compromisso diário da sociedade brasileira com a justiça e a equidade racial.
Bom dia de Luta!
Rosivania Pereira Gomes
Juíza do Trabalho e cogestora regional do Comitê Gestor de Igualdade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT da Paraíba