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Justiça do Trabalho define logística para negociar R$ 37 milhões em dívidas

São R$ 30 milhões em dívidas de municípios e R$ 7 milhões de empresas privadas
publicado: 02/05/2007 09h45 última modificação: 30/09/2016 10h22

Está tudo pronto na sede do Tribunal Regional do Trabalho, em João Pessoa e nas 27 Varas do Trabalho espalhadas por 15 municípios paraibanos para o próximo dia 10 de maio, quando acontece o “Dia D” do Projeto Conciliar. Nesse dia estão previstas para acontecer duas mil audiências em todas as unidades da Justiça do Trabalho. É o esforço para negociar e quitar dívidas trabalhistas de municípios e empresas com trabalhadores.

Um levantamento do TRT mostrou que 119 municípios têm uma dívida trabalhista de R$ 30 milhões. São valores que os municípios deixaram de pagar a ex-servidores mesmo depois que os processos foram julgados e as dívidas reconhecidas pela Justiça. Metade desse valor, R$ 15 milhões, resulta de multas aplicadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Essas multas foram aplicadas porque os municípios não pagaram o salário mínimo nacional, o salário do funcionalismo até o 5º dia útil do mês seguinte, o 13º salário ou a parcela de 1/3 de férias.

Semana passada a presidente e o vice-presidente do TRT, Ana Clara de Jesus Maroja Nóbrega e Edvaldo de Andrade encerraram a fase de divulgação do Projeto junto aos prefeitos dos 119 municípios. Durante o período do pouco mais de mês, Ana Clara esteve nos municípios de Campina Grande, Areia, Guarabira, Taperoá e Monteiro. Em João Pessoa, reuniu prefeitos e representantes de Santa Rita, Mamanguape e Itabaiana. O vice-presidente esteve em Itaporanga, Sousa e Cajazeiras. No dia 10 de maio vai estar em João Pessoa o ministro corregedor-geral do Tribunal Superior do Trabalho, João Oreste Dalazen. Ele estará fazendo correição ordinária no TRT e vai acompanhar o Projeto Conciliar.

Esta será a 3ª versão do Projeto, que este ano vai dar ênfase aos processos de empresas privadas e pessoas físicas. Existem mais de 35 mil processos em execução em todo o Estado e a meta para este ano é conciliar R$ 7 milhões. A versão do projeto deste ano foi lançada no dia 14 de março.

As maiores dívidas estão na região do sertão

Os municípios que pertencem à jurisdição de João Pessoa, Santa Rita, Mamanguape e Itabaiana devem R$ 2.730.526,36 em precatórios. A prefeita de Rio Tinto, Magna Gerbási disse que fará todo o possível para conciliar e resolver as pendências. “A iniciativa do TRT é excelente porque além de saldar os débitos, existe a oportunidade de reverter o valor das multas em prol do próprio município, ao invés de ser encaminhado para o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador)”, observou.

A presidente do TRT, juíza Ana Clara Nóbrega lembrou que a iniciativa do Projeto Conciliar partiu do juiz Afrânio Melo, quando esteve na presidência do Regional. A presidente também esteve em Campina Grande. O valor da dívida com precatórios trabalhistas daquela região é de quase R$ 3,5 milhões.
No encontro de Campina, o prefeito de Areial, Adelson Benjamim, disse na reunião que o Projeto Conciliar foi uma bênção para o município. Ele explicou que assumiu a prefeitura em janeiro de 2005 com uma dívida de 1,4 milhões em precatórios. “A arrecadação chegou a ser bloqueada inviabilizando a administração municipal. Participei da primeira e da segunda versão do Conciliar e nesta terceira vou zerar o débito”, disse Adelson. Areial tem uma dívida hoje de apenas R$ 50 mil.

Já a região de Guarabira tem quase 40% de toda a dívida trabalhista da Paraíba. Dos 23 municípios, 13 têm precatórios vencidos e não pagos. A dívida total é de R$ 11.985.323,56. O maior valor individual devido é o do município de Mari: 8.799.470,70.

No alto sertão da Paraíba, nas regiões que compreendem os municípios de Cajazeiras, Sousa e Itaporanga está a maior dívida em precatórios. No total são 34 municípios, que devem de precatórios trabalhistas vencidos e não pagos R$ 20.819.620,61. Os municípios da região de Cajazeiras são os que mais devem: R$ 12.603.643,04. O problema reside, basicamente, em um único município: São José de Piranhas, que tem um débito de R$ 11.175.925,00, valor resultado de uma multa aplicada pelo Ministério Público do Trabalho. Todos os municípios, apesar de demonstrarem as dificuldades financeiras, querem participar do Projeto Conciliar e buscar uma solução para o pagamento das dívidas.

As multas do Ministério Público do Trabalho

O Ministério Público do Trabalho aceitou convite da presidente do Tribunal Regional do Trabalho, Juíza Ana Clara Nóbrega, e decidiu participar do Projeto Conciliar deste ano. A procuradora-geral do trabalho na Paraíba, Maria Edlene Costa Lins já se reuniu com Ana Clara para definir como será a atuação do MPT.
O Ministério Público decidiu que vai baixar os valores das multas, desde que o fato que motivou a infração esteja resolvido. E mais: os valores depois da negociação podem ser aplicados nos próprios municípios. Notícia melhor impossível.

O próprio prefeito do município de São José de Piranhas, José Ferreira de Carvalho, que tem uma dívida de R$ 9.429.071,30 (precatório vencido), que chegou à reunião com o vice-presidente do TRT, juiz Edvaldo de Andrade dizendo que essa dívida só Jesus pagaria, mudou de idéia. Depois da explicação do vice-presidente ficou animado. Garantiu que vai sentar à mesa de negociação para se livrar do pepino e que ainda vai negociar 25 outros processos de precatórios trabalhistas.

“Essa será, na verdade, uma oportunidade histórica dos municípios se livrarem desses processos dificílimos”, disse o juiz Edvaldo de Andrade, que na semana passada conversou com prefeitos das regiões dos municípios de Itaporanga, Sousa e Cajazeiras.

MUNICÍPIO DÍVIDA COM O MPT
Valores em Real
Barra de São Miguel 1.435.107,50
Carrapateira 180.034,22
Gurinhém 140.461,20
Lucena 84.500,00
Mulungú 2.635.701,63
Pirpirituba 278.770,39
Rio Tinto 70.500,00
São José de Piranhas 9.429.071,30
Serraria 556.234,70
Sossego 181.370,40

TOTAL

15.591.751,34

Tirando dúvidas

O que é o Projeto Conciliar
- O apelo do projeto está na conciliação para resolver um problema que vem afligindo prefeito. Nesta 3ª versão o TRT vai colocar frente a frente municípios e trabalhadores para buscar o pagamento da dívida, que vem se acumulando desde 1994.

- O que é Precatório?
Precatório é o reconhecimento da Justiça a uma ação provocada por um trabalhador depois de ser demitido do serviço público ou de buscar um direito trabalhista, como piso salarial, hora extra, etc.

- Como surge o precatório?
Para entender o surgimento de um precatório nada melhor do que um exemplo:

Ao ser demitido de um município, o servidor entra com um processo na Justiça do Trabalho reclamando o não cumprimento da Lei Trabalhista, como por exemplo o não pagamento do Salário Mínimo Nacional, horas extras, etc.

A Justiça reconhece o direito do trabalhador, obrigando o município a pagar o valor devido.

Esse Valor é incluído para pagamento no orçamento municipal do ano seguinte, ou seja, a dívida é transformada em precatório.

O município, apesar de no orçamento constar a dívida com valor especificado, o pagamento não é efetuado. A dívida, então, é transformada em precatório vencido.

O não pagamento do precatório configura uma desobediência a uma ordem judicial. Nesse caso, a lei diz que o remédio jurídico é a intervenção.

O TRT encaminha à Justiça Estadual (Tribunal de Justiça) a informação de que o precatório não foi pago, ou seja, uma ordem judicial foi descumprida pela prefeitura. Os desembargadores analisam o processo e é determinada a intervenção por descumprimento de ordem judicial. O Governador do Estado, é oficiado da decisão da Justiça e procede a intervenção, com envio do processo à Assembléia Legislativa.

Cada processo corresponde a um pedido de intervenção, por isso mesmo um município pode ter dez ou mais pedidos de intervenção.


Precatório: a gravidade da situação
- Quanto mais tempo o município demora a quitar seus precatórios trabalhistas, mais o volume da dívida aumenta, o que em um futuro próximo pode inviabilizar a administração pública.