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Dia Internacional da Mulher: tripla jornada e saúde mental marcam a data em 2022

Estudos apontam aumento de estresse, ansiedade, depressão e estresse pós-traumático em mulheres em relação aos homens
publicado: 08/03/2022 11h17 última modificação: 11/03/2022 13h29

Acordar cedo para preparar o café da manhã e, ao mesmo tempo em que liga o computador, chama os filhos e marido para levantarem e fazerem as tarefas do dia, enquanto verifica a situação da casa e programa uma faxina. Este é um exemplo de como tem sido a rotina matinal de milhões de mulheres ao redor do mundo que, desde as restrições impostas pela pandemia da Covid-19, têm experimentado um novo nível de cansaço físico e mental, piorado pelo medo, angústia e incertezas.

O teletrabalho, conforme abordou a juíza da 4ª Vara do Trabalho de João Pessoa, Mirella D’arc de Mello Cahú Arcoverde de Souza, em artigo publicado no livro argentino “La pandemia social de Covid-19 en America Latina”, em coautoria com as pesquisadoras Camila Pereira Abagaro e Roselia Arminda Rosales Flores, gerou exigências múltiplas que requerem maior atenção. A mulher passou a, no mesmo espaço físico e de tempo, ter que administrar sozinha as demandas de trabalho, gerenciar os horários e organizar o trabalho, havendo aumento do esforço físico e mental para manter os ritmos de trabalho.

Juíza Mirella Cahú
Juíza do TRT-13 Mirella Cahú | Arquivo pessoal

“Somado a isso, acrescenta-se a carga de demandas do trabalho doméstico e o cuidado com as crianças e enfermos, normalmente assumidos pela mulher por imposição histórica do papel que lhe foi atribuído – a chamada divisão sexual do trabalho. Assim, se mesclam os espaços: onde antes se recuperava a força de trabalho, de descanso – o espaço privado – hoje é o mesmo lugar onde os filhos realizam tarefas escolares, brincam, onde se cuida dos enfermos, se administra atividades de asseio e higiene e, ainda, se realiza o trabalho remunerado por meio das tecnologias”, avaliou a magistrada.

Dessa forma, a juíza explicou que se à primeira vista o teletrabalho parecia ser uma possibilidade vantajosa de reorganização do mundo do trabalho, evitando deslocamentos e flexibilidade de horários, logo perceberam-se fenômenos como o aumento das horas trabalhadas, podendo se falar até mesmo em tripla jornada da mulher. Esta realidade traz impactos à saúde física e mental. “A maior exposição às exigências impostas pela pandemia pode produzir, em razão dos ritmos intensos de trabalho, adoecimentos relacionados à saúde do trabalhador. É comprovado que, ao alcançar 60 horas semanais de trabalho, se observa diminuição no desempenho e eficiência no trabalho, erros e acidentes nas atividades laborais e aumento de sintomas de fadiga”, explicou.

Atuação conjunta para diminuir sobrecarga

A conselheira Nacional de Justiça, desembargadora Tânia Regina Silva Reckziegel, destacou a importância de se pensar na saúde mental das mulheres, especialmente neste período de pandemia e considerando as funções que se acumularam desde seu início. Além disso, salientou que estudos apontam aumento significativo de estresse, ansiedade, depressão e estresse pós-traumático reportados em mulheres em relação aos homens.

“Em casa, onde deveriam estar mais seguras, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o índice de denúncias de feminicídio cresceu 22,2% entre março e abril de 2020, enquanto as chamadas do 180 aumentaram 34% em comparação ao mesmo período de 2019. Neste cenário, a relação com o trabalho acaba sendo afetada de forma significativa, o que exige uma atuação conjunta visando minimizar seus efeitos. Com a saúde mental afetada, não há como atuar profissionalmente de forma tranquila e produtiva”, enfatizou.

Dessa forma, a desembargadora afirmou que dados confirmam a necessidade de uma atuação conjunta para dirimir as consequências da sobrecarga sobre as mulheres. “Isso porque não é só a mulher que sofre as consequências desse fenômeno, mas todo o núcleo familiar e, inclusive, as empresas. Assim, quanto maior o conhecimento e a divulgação das consequências da pandemia na saúde mental das mulheres, mais efetivo será o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento”, ressaltou.

Ouvidoria para mulheres

Conselheira Tânia Reckziegel
Conselheira do CNJ Tânia Reckziegel | Arquivo pessoal

O Conselho Nacional de Justiça criou, em fevereiro deste ano, a Ouvidoria Nacional da Mulher, um espaço para o recebimento de informações, sugestões, reclamações, denúncias, críticas e elogios sobre a tramitação de procedimentos judiciais relativos à violência contra a mulher, possibilitando mais informações sobre as providências adotadas nos processos. Neste sentido, será desenvolvido um local na página da Ouvidoria para acesso a formulário eletrônico específico para o registro de demandas pertinentes.

Para isso, o CNJ considerou, entre outros fatores, que é atribuição do poder público desenvolver políticas para garantia dos direitos fundamentais das mulheres nas relações domésticas e familiares, resguardando-as contra práticas de discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. “Atuando nessas questões, será um órgão de extrema importância no enfrentamento da violência, física e mental, contra as mulheres, garantindo seus direitos fundamentais”, afirmou a conselheira Tânia Reckziegel, primeira a assumir a ouvidoria.

“É uma honra e enorme responsabilidade, confiada a mim pelo ministro Luiz Fux, a quem cumprimento pela iniciativa. Ser o primeiro ou a primeira a ocupar uma função é um desafio porque caberá a esta pessoa dar o tom, estabelecer as primeiras ações do órgão ou instituição”, frisou.

Servidora relata cuidados durante pandemia

A servidora Valéria Ferreira da Rocha, da 1ª Vara do Trabalho de Santa Rita, relatou as dificuldades que enfrentou durante o período de isolamento vivido durante a pandemia, que foi agravado porque estava com um recém-nascido, seu filho Bernardo Rocha Damasceno, atualmente com dois anos de idade. “Após o nascimento do meu filho, fiquei mais um tempo em casa esperando o período das vacinas para poder sair e, então, quando chegou o período em que poderíamos sair, veio a pandemia e o lockdown”, contou.

Servidora Valéria Ferreira da Rocha
Servidora Valéria Ferreira da Rocha, da 1ª Vara do Trabalho de Santa Rita com o filho, Bernardo | Arquivo pessoal

“Eu realmente senti o peso de tantas responsabilidades e preocupações nesse período de pandemia por ser mulher. Não conseguia aquietar minha mente, pois o meu ‘local’ de trabalho não se separava do meu lar e de minhas responsabilidades como mãe e dona de casa. Então, comecei a fazer meditação antes de dormir e isso tem me ajudado muito. Além disso, percebi que precisava de mais momentos para mim e voltei a fazer caminhadas na areia da praia, dançar em casa, ler e ver minhas séries favoritas”, relatou a servidora, que também contou com o apoio dos pais para auxiliar nos cuidados com o filho.

“Por outro lado, foi positivo e um privilégio poder trabalhar em casa, tendo uma criança pequena. Muitas pessoas que conheço não tiveram essa oportunidade de fazer home office em um período de tantas incertezas e riscos. Pensar na saúde mental da mulher é importantíssimo para conseguirmos viver bem e com qualidade, além de podermos sentir satisfação e felicidade em todos os âmbitos da nossa vida, inclusive no trabalho”, salientou.

A servidora comentou, ainda, que “é muito importante comemorar o Dia Internacional da Mulher com o objetivo de refletirmos sobre o papel da mulher na sociedade e como podemos exigir respeito e reconhecimento, sem perder a capacidade de agregar pessoas e olhar com amor para o próximo”.

Celina Modesto
Assessoria de Comunicação Social TRT-13